Escola
A escola primária sempre viveu tempos edílicos pelo modo como as pessoas a recordam. Os seus professores, os espaços, os colegas, as primeiras letras e números. A minha não foi assim. Foi triste. Também não sou propriamente a felicidade em pessoa, é certo. Os únicos momentos de exaltação narcísica resumiram-se às alturas em que fora dono da bola. Também deve ter sido uma vez, comprada no Rates. Tive cerca de 8 professores da 1ª à 4ª classe. A grande maioria deles mestres no manejamento da cana ou da régua. A memória de longo prazo fixou o momento em que arrefecíamos as mãos no ferro das velhas carteiras. Fui-me habituando à ideia de que as aulas da manhã não seriam para os menos dotados, muito menos para os que não habitavam o pequeno burgo. Quase sempre tinha aulas à tarde. Ouvia falar dos grandes mestres que eram professores dos outros. Mas esses outros não tiveram a vantagem de verem o Nai a escrever. Com as feições de adolescente para quem a escola fora um pequeno pormenor, o Nai da Ponte do Ranha escrevia com uma rapidez nunca vista. Pudera, já fazia o mesmo há anos.
António Daniel
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