O Farol

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    O farol é das criações que mais nos atrai. Todos gostamos de um bom farol. Aquele que

ilumina, que sonoriza. E quanto mais farol ele é, mais nos atrai. Um bom farol é altaneiro.

Um excelente farol é altaneiro e resistente. Mas a inacessibilidade também é importante.

Então, estamos perante os faróis, não excelentes, mas místicos. São altaneiros, resistentes

e inacessíveis.

    Os verdadeiros faróis não se mostram. Podem dizer, mas há faróis que são visitados e são

acessíveis. Eu respondo, é um farol com problemas. É um farol que deve estar farto das

pessoas. Um farol foi feito para ser visto ao longe e para nos apaziguar com o som, à noite

quando estamos a dormir. Todos sabemos que há um farol algures, e sempre em zonas

difíceis. Gosto desses faróis, que mantêm a distância, que levam com as ondas mas que se

mantêm na sua humana tarefa: servir de guia e beneficiar as pessoas. Mas tal só acontece

porque ele nos vislumbra à distância, é inteligente. Sabe que, caso se aproximasse, deixava

de ter importância.

    Um farol não quer atenção. Não quer amor. Não quer nada de nós. Um farol não precisa de

nós, nós é que necessitamos do farol. As únicas condições para a sua existência são o mar

salgado e as ondas. O mar nunca desiste, sabe que o sal corrói e sabe que as suas forças

centrífugas e centrípetas marcham incessantemente de encontro ao farol. Mas o farol não

desiste. Aliás,um farol nunca foi construído, sempre existiu.

    Eu gosto do misticismo dos faróis. Faz-nos lembrar aquela figura paternal que nos guia

para um lugar seguro. A luz cambiante e circular, é como uma estrela que nos diz que por

ali não. O barco vê a luz e sabe que está próximo da terra, e no nevoeiro há sempre som.

Sabemos, pois, que ele lá está a dizer-nos «cuidado». Contudo, este cuidado não é mero

paternalismo, é algo que nos indica o caminho sem dizer o que devemos escolher. Somente

nos diz «por aqui não!». Aqui reside o seu lado místico. O farol é um sr. de barbas, velho e

duro, experiente, sujeito a muitas agruras da vida, mas que as utiliza não para hostilizar,

mas para ajudar. Todas as pessoas deviam ser como faróis. E nós mesmos devemos ser

faróis.

    Podia falar sobre os faroleiros, mas não sei se ainda os há. Quando os havia, deviam ser

feitos da mesma massa que os faróis.

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