Generosidades


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Tempos bons esses em que sobrava a generosidade para afagar as misérias da vida. Consta que a minha avó Florinda, pela localização privilegiada da sua venda, dispunha de presença constante de gentes das serras. Na lateral da Igreja Matriz e com a presença constante da rodoviária, com os seus cinzentos autocarros, chegavam gentes que, com maior ou menor predisposição, aproveitavam a quarta-feira para ir à vila.
Eu, puto pseudo-urbano, olhava-os com um misto de curiosidade e desassombro. Espreitava-os nas suas descargas, não só em forma de mercadoria, mas biológicas. Se aos homens era-lhes culturalmente permitido o comum desiderato, às mulheres a vergonha impunha-lhes certas restrições. Mas eram espertas. Simplesmente afastavam as pernas…
Tudo isto para dizer que no Minho a natureza confunde-se com o cultural. A cultura não é uma segunda natureza, é a natureza. Daí que o verbo acompanhe a respectivo acto. Certo dia, a minha avó deu guarida a uma dessas espertíssimas mulheres pelo facto do autocarro não ter esperado. Generosamente disponibilizou-lhe o ninho num anexo relativamente confortável pela proximidade do fogão de lenha que havia funcionado para a vitela. Na manhã seguinte, a mulher foi-se embora mas esqueceu-se da descarga manual do penico. Pela extensão da coisa e pela «lata», a minha avó ficou duplamente surpreendida. Qual rede social, a notícia espalhou-se rapidamente pelas redondezas. Ao chegar aos ouvidos do gasolineiro das bombas ao lado do posto da GNR, quis logo comprovar in loco a veracidade do achado. Quando lá chegou, disse a frase que se impunha: quem assim caga, boa merda deve comer!

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