Generosidades

Tempos bons esses em que sobrava a generosidade para afagar as misérias da vida. Consta que a minha avó Florinda, pela localização privilegiada da sua venda, dispunha de presença constante de gentes das serras. Na lateral da Igreja Matriz e com a presença constante da rodoviária, com os seus cinzentos autocarros, chegavam gentes que, com maior ou menor predisposição, aproveitavam a quarta-feira para ir à vila. Eu, puto pseudo-urbano, olhava-os com um misto de curiosidade e desassombro. Espreitava-os nas suas descargas, não só em forma de mercadoria, mas biológicas. Se aos homens era-lhes culturalmente permitido o comum desiderato, às mulheres a vergonha impunha-lhes certas restrições. Mas eram espertas. Simplesmente afastavam as pernas… Tudo isto para dizer que no Minho a natureza confunde-se com o cultural. A cultura não é uma segunda natureza, é a natureza. Daí que o verbo acompanhe a respectivo acto. Certo dia, a minha avó deu guarida a uma dessas espertíssim...